Quando pensamos no nosso desenvolvimento de carreira, é natural considerar: “Quero ser gerente” ou “Quero coordenar”, enfim, querer ocupar posições de liderança dentro da atividade que você desenvolve. Mas é importante reforçar que ser líder não é apenas ter um cargo com um nome diferente, status especial dentro da empresa e uma lista de benefícios melhor do que você tinha antes, como uma sala, um carro ou uma assistência médica diferenciada.
Ser líder implica, em primeiro lugar, fazer gestão de pessoas e, só considerando esse aspecto, poderíamos passar dias conversando sobre a complexidade dessa atividade, mas isso vai ficar para outros artigos.
E antes fosse só isso…
Líder tem que tomar decisões, muitas vezes difíceis, complexas e até impopulares. Já parou para pensar em quem toma a decisão de quem fará parte da lista de demissões em tempos de crise nas empresas? O RH? Não, não… o RH só toma a decisão das pessoas da sua própria equipe e apoia o processo das outras áreas. A decisão é de cada gestor.
Significa também representar sua área e equipe dentro da empresa, gerenciando uma série de recursos escassos como orçamento, investimentos, massa salarial, além de ter a necessidade da exposição diante de outros líderes, tendo que “brigar” internamente por espaço e legitimidade, participando da arena política da organização, conceito muito explorado pelo Professor Joel Dutra da FEA/USP.
Enfim, ascender para uma posição de liderança traz junto uma série de mudanças na natureza das atividades que você vai fazer e, por isso, trata-se de uma mudança de trajetória de carreira e, como tal, exige planejamento e dedicação na sua preparação para exercer esse papel. Existem muitos cursos que ajudam nessa formação, mas um modo também muito eficiente para se tornar um gestor é ter a oportunidade de assumir gradativamente a posição com o apoio do seu atual líder dentro de um processo de desenvolvimento de sucessores. Essa é uma oportunidade para você ser exposto à arena política da sua empresa, experimentando o papel de líder num ambiente protegido. Algumas empresas têm processos sucessórios estruturados e ajudam a fazer essa transição com maestria.
E isso abre espaço para a pergunta: É possível aprender a ser líder? Na minha visão e experiência, eu diria que sim. Eu mesma aprendi a ser líder. Claro que existem pessoas que nascem com essa competência e naturalmente caminham para posições de grande destaque em empresas, governos, causas sociais, esportes, etc.. É o caso de nomes como Steve Jobs, Walt Disney, Margaret Thatcher, Gandhi, Martin Luther King, Bernardinho e muitos outros. Mas diversos estudiosos desenvolveram teorias, técnicas e testes que permitem uma pessoa que não é um “líder nato” se desenvolver e obter excelentes resultados.
Por outro lado, apesar de ser algo natural de se acontecer na carreira e ser esperado por grande parte dos profissionais, pode ser que tornar-se líder não seja o sonho de consumo de todos. Muitas pessoas não conseguem, não querem ou não gostam de lidar com a arena política ou com a gestão de pessoas e resultados. E o que fazer quando você não tem interesse ou não quer ter uma posição de liderança?
Isso me fez lembrar de um processo de Coaching que eu conduzi recentemente no qual meu cliente chegou com a expectativa de desenvolver um planejamento de carreira que previa se tornar um coordenador na área de atividade dele em um determinado período de tempo. Essa decisão inicial era baseada na comparação da sua carreira com a de colegas de faculdade que já estavam em posições de liderança ou prestes a ascender, além de achar que sua única opção de crescimento, inclusive financeiro, era se tornando coordenador.
Mas após algumas sessões e momentos de reflexão, percebeu que seu perfil e interesse não combinavam com o que era necessário para ser um gestor e que, se permanecesse com aquele objetivo, seria necessário um investimento muito grande em seu desenvolvimento e mudança de comportamento. No caso desse cliente, ele optou em mudar seu plano, enxergando em posições como especialista, consultor e, até mesmo professor, alternativas mais condizentes com seu perfil e passou a trabalhar seu planejamento de carreira com esse novo foco. (Este é mais um exemplo de como o autoconhecimento é importante no desenvolvimento de carreira. Saiba mais sobre isso no artigo Âncoras de Carreira).
Dessa forma, estar em posição de liderança não é a única alternativa para um desenvolvimento de carreira com sucesso, não é uma obrigatoriedade para todos os profissionais. É mais natural para algumas pessoas, possível de aprender para outras (como foi o meu caso) e algo completamente fora dos planos para muitos e está tudo bem se essa for a sua escolha…
E então… Qual será seu próximo passo na carreira?
